tentativas



Acordei de manhã
Era cedo, levantei
Estava escuro
A primeira vez que fiz isso sozinha
A tempestade me deu boas-vindas
Molhou parte do meu corpo sentado
Os trovões e relâmpagos traduziram o que sentia
O mundo inteiro podia ouvir
Não estava mais a salvo
Segredos expostos
Já não sentia, perguntei
Quanto tempo mais?
Quanto tempo mais?
Quanto tempo?
Na ignorância, na tempestade, aqui sentado.
O tempo!
Sabia que passaria.
Mas, quanto tempo teria que esperar?
Já não sentia, observei.
Raios, trovões, tempestade.
Dentro e fora.
Silêncio
Silêncio
Silêncio
Dentro e fora.
Abro os olhos já está claro, amanhece.
Amanheço.
E o céu está azul.
Fenômenos da natureza que esperam tranquilamente o tempo de cada coisa.
O tempo de cada coisa, a resposta.
18 de novembro, quinta-feira, 5h30, primeira vez que fiz isso sozinha.
Mais um dia, menos sábado, domingo e segunda.
Amanhã. 5h30. Levantarei no escuro.

Por que meditar?

Talvez muitos já tenham ouvido falar sobre os "efeitos colaterais" da meditação. Em pesquisa, encontrei esse texto enviado pelo grupo de e-mail da comunidade Zen Budista de Florianópolis, comunidade da qual participei enquanto morva lá. Esse texto elucida muito bem esses efeitos e principalmente os motivos para se meditar. Coloquei em negrito as partes que se aproximam de minha própria experiência e percepção. 

Para exclarecer, no Zen praticamos o zazen, "apenas sentar". Sentar em silêncio, com a mente aberta sem aceitar nem rejeitar nada. Apenas sentar. Ter a "experiência direta da realidade". Vale muito a pena ler o texto! Principalmente para quem ainda tem dúvidas a respeito do porque meditar ou procura uma motivação maior para começar nesse maravilhoso caminho! Apesar de ser um texto muito claro e até mesmo preciso, nenhuma explicação chega perto da experiência! Pare, sente, respire!


Diz-se que a meditação pode trazer benefícios físicos e mentais a quem a pratica com regularidade. Segundo estudos médicos, os seus benefícios variam entre o desenvolvimento da capacidade de concentração e de raciocínio a melhorias na atividade do sistema imunológico, a alívio de insônias e problemas relacionados com pressão alta e curas emocionais. Os praticantes Zen não deixam, porém, de contrair doenças, de sofrer, de morrer. A meditação não é um meio para se alcançar a imortalidade física ou para se libertar das leis da natureza.

Somos o que pensamos.
Tudo o que somos provém
dos nossos pensamentos.
Com os pensamentos
Fazemos o mundo.
(do Dhammapada)

Ver as coisas como elas são, incluindo nós mesmos, é o principal motivo que leva os praticantes Zen a meditarem. De um modo geral, não nos damos conta da relação entre os padrões habituais da nossa atividade mental e o sofrimento que eles causam a nós e aos outros. A observação consistente da mente, durante a meditação e ao longo do dia, revela-nos que grande parte do nosso tempo é despendido a correr atrás de certas coisas e circunstâncias e a rejeitar outras. Damo-nos conta que dependemos uma parte considerável do nosso tempo e da nossa energia a reciclar prazeres e agravos do passado, ou ocupados em como podiam ou deviam melhorar as coisas no futuro, comparando constantemente pessoas e coisas, encarando-as segundo categorias dualistas como bem e mal, desejável e indesejável, certo e errado, culpado e inocente, amigo e inimigo, etc.

Ao meditarmos, passamos a ver com maior clareza os nossos preconceitos e apegos, e isto faz com que procuremos aperfeiçoar o nosso caráter. A observação simples, honesta, não verbal, dos nossos processos mentais e emocionais produz de fato uma mudança no modo de como encaramos as situações e as pessoas que encontramos. O efeito final é uma aproximação à vida que se manifesta em atitudes de não rejeição e de não apego, de não distorção da verdade, de obtenção do excesso de satisfação de desejos e de não cedência ao auto-engano. Esta maneira de viver manifesta-se quer num plano pessoal quer num plano social, e decorre mais de uma profunda compreensão interior do que de um ato de vontade. Como consequência, tornamo-nos menos propensos, por exemplo, a tirar proveito egoísta da natureza ou do próximo, a voltar as costas à vida por ingestão de químicos ou de drogas, a fechar os olhos às necessidades dos outros e aos efeitos das nossas vidas no meio ambiente.

Uma prática contínua de plena atenção ao longo de muitos anos pode dar origem a experiências de profunda compreensão interior que transformam a visão que temos de nós mesmos, ao ponto de podermos ver que o eu a que estivemos ligados prazenteiramente ao longo da nossa vida mais não é do que uma miragem auto-construída. É como se descascássemos uma cebola. Os falsos pensamentos são removidos, camada após camada, até deixarmos de ver não só um eu dissimulado e ilusório, mas também um eu desnudado. Aspiras a descobrires o teu eu, mas acabas por descobrir que não há nada a descobrir.
Em termos mais concretos, praticar meditação faz diminuir gradualmente a errância dos teus pensamentos até experimentares um estado de “não-mente”. Perceberás naturalmente que a tua vida no passado foi construída sobre um acumular de noções errôneas e confusas que não são o teu verdadeiro eu. O teu verdadeiro eu é um que é inseparável de todos os outros. A existência objetivo de todos os acontecimentos compreende todas as várias dimensões da existência subjetiva do teu eu. Não tens, portanto, que procurar nada nem desprezar nada. O que está diante de ti em cada momento é o que tens procurado, e não podes nem tens de lhe acrescentar nada para ele ser perfeito. Ao alcançar este estádo, o praticante de meditação torna-se compassivo para com todos os humanos e todos os outros seres. O seu caráter torna-se radioso, aberto, luminoso como a luz da Primavera. Apesar de poder manifestar emoções em prol dos outros, internamente . Tal pessoa pode ser considerada neste momento iluminada.

Segundo um ensinamento essencial do Zen, a porta interior está aberta a todos, homens e mulheres, velhos e novos, sábios e ignorantes, fortes e fracos, pessoas de todas as profissões, ofícios e origens, de qualquer religião e crença.
Todas estas palavras, no entanto, apenas falam do Zen, não são em si o Zen. A meditação Zen requer a tua determinação em aprenderes e a tua persistência em praticares. Falar do Zen sem o praticar só faz aumentar o conhecimento inútil e confuso da nossa já confusa mente. Não te é salutar alimentares-te apenas com imagens de comida.

(texto cortesia de Open Way Zen, traduzido por José Eduardo Reis)

Publicado originalmente aqui.


O caminho

É como traduzir o silêncio que me sustenta. Páginas em relevo com o meu sagrado. Meu segredo. Secreto santuário. Flores do meu jardim, frutos do meu quintal.
Mais uma parte que parte, põe-se a caminho, segue viagem, vai embora, retira-se, afasta-se, foge.
Mais uma parte que parte, dividi-se, separa, quebra, reparte-se.
Mais uma parte que parte, tem origem ou começo, procede, provém, decorre, deriva, nasce de mim.
Mais uma parte do segundo mais tarde, nas ruas que escolhi.
Um caminho de silêncio.